Vem, vamos além.

Lugar combinado, sem atrasos. Mãos dadas, os corações socando a caixa do peito num mesmo ritmo, como se compassados por uma música rápida estupidamente alta. O suor era frio, o dia era branco, mas as expectativas faziam-no ser visto de azul, muito mais azul que a incerteza nos olhos dela, confortado na macia sensação de que aquilo poderia dar certo.

Tão cedo, tão frio, porque assim na calada da manhã, porque assim tão longe, porque esse rio divorciado da calmaria. Primeiros pés a se balançarem na ressaca, segure minha mão mais forte, eu te puxo cá pra dentro, você não vai cair. Vem, vamos além. Me abrace forte agora, que é chegada a nossa hora.

Rio abaixo, loucos, jovens demais pra saber o que é o certo, o que é a sorte, o que é o amor. Ninguém os observa de fora, mas eles diriam que a vida é passageira, como uma estrela sempre a cair. Vem, vamos além. Correr, pra se amar, se amar até o fim, sem saber que o fim já vai chegar.

Não, não é tentativa de suicídio. Não, não é. Fuga, fuga sim, suicídio não. Apesar deste ser um tipo de fuga, nossos motivos não correspondem, nossos anseios não condizem, nosso sonho não é esse. Não queremos achar o fim, queremos o começo, o começo do novo, quiçá longe daqui, eu não sei onde esse barco vai dar.

O que a gente quer é o amor. Se nesse lugar não nos era permitido, em outro então. No antes, no ali, era fuga dos outros, era ouví-los dizendo que nunca ia dar certo, era o contra, o desfavorável, a gente se escondia, corria, se amava assim, sem poder se amar. Eu não sei onde esse barco vai parar, mas onde quer que seja, juntos, onde for, qualquer lugar, hora. Cansei dessa fuga, e esse amor batido, com rugas, merece ter o seu lugar.

Mas que bússola abstrata, o remo tinha cinco dedos, e esse motor continua socando a caixa do peito, como se compassados por uma música rápida estupidamente alta. Irremediavelmente apaixonados. Correndo pra se amar, se amar até o fim, sem saber que o fim já vai chegar. Que motivo maior financia tanto risco, quanto tempo levará, onde enfim vai desaguar esse barco. Vem, vamos além. E eles foram, além, além até demais. Até o limite de todos os homens.

Ela preocupada, com pouco de medo dizia, 'veja você, onde é que o barco foi desaguar!', ele sem saber o que dizer, busca justificar essa quimera segurando o rosto dela, imiscuindo-se pelos olhos como se o alívio de todas as dores o abrigasse, 'a gente só queria o amor'. Ela que tanto rezou, palpitou que 'Deus parece às vezes se esquecer', e ele, que sempre servia de cais, consola, explica, acalma, 'ai não fala isso, por favor, esse é só o começo do fim da nossa vida'. O sonho vai poder chegar, quem vai nos impedir de passar por essa avenida. Ah, essa avenida.

No depois, no aqui, vamos andar, você poderá deixar a janela aberta pro Sol te ver, sem medo, sem se esconder, é só lembrar que o amor é tão maior, e aqui, estamos sós no céu. Nessa janela sem cortinas, eu também não me escondo de mais ninguém. Foi o amor quem desvendou nosso lugar, agora diz, quem é maior que o amor?

Conversa de botas batidas - Los hermanos.

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