Reverberatório.

Num dia qualquer, todo mundo acordou num mundo sem espelhos. Assim, assim mesmo, sem espelho nenhum. As pessoas foram escovar o dentes e deram de cara com a parede, não havia espelho atrás da porta do guarda-roupa, nem no aparador da sala, acharam tudo tão estranho e depois viram no jornal que não havia mais espelhos em parte alguma do planeta.

O salões de beleza se fecharam, as lojas de roupas se desesperaram, as academias perderam o sentido. As pessoas passaram a procurar o reflexo de tudo, nos vidros, nas águas, nas superfícies polidas e especialmente nos olhos, ah sim, os olhos. Passaram a avisar quando os dentes de pessoas estranhas estavam sujos, se perguntavam no elevador se aquela roupa estava boa, as empregadas diziam como estavam os cabelos das madames.

Repararam que a constatação entre o que é belo ou não passou a vir pelos ouvidos, usando o olhar do outro, a opinião de quem o vê de fora, numa perspectiva que não a sua. Havia mais liberdade pra se expor impressões, as percepções, era inevitável se falar verdade ou mentira, cada gosto varia e as coisas iam acontecendo assim; as pessoas passaram a se arrumar, ainda, pro outro mas com o detalhe de não passar pelo prévio auto-julgamento, que por sinal é muito mais rigoroso, há cobrança demais e sempre, ah sim, sempre vão existir imperfeições em você e no resto do mundo.

Seguiram assim, como crianças, que não se olham, vestem-se por se vestir, arrumam-se pelas mães, e nada disso vai importar, espelhos são pra quem precisa se encontrar, procurar em si qualquer detalhe que possa se corrigido, é se ver por inteiro e reparar em tudo que se considera importante e não pode ficar fora do lugar, para o outro, além disso, para si mesmo quando pensa no olhar do outro, sem saber que este pode estar procurando por algo que não pode ser refletido.

Os espelhos deixaram de existir mas os reflexos não. Os retrovisores, as poças, as janelas, a imagem quando não difusa, pequena. E quando as pessoas se pegavam querendo se encontrar numa colher, ou num cd, mais ainda voltavam seu olhar para o que é pequeno, lapidaram o jeito de olhar o mundo, as minudências despercebidas, longe de serem espinhas ou rugas, mas sim tudo que se está do outro lado do reflexo fosco da janela, que sempre esteve ali, mas não era visto por todos buscarem o reflexo e não o além.

Comentários

flor de laranjeira, isso é pra você x) coisa linda

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