olhos, mãos e dedos.


Achei o texto de uma das minha fotos favoritas. Lembro-me de como nasceu; um quadro que não deu certo foi o portal da idéia, máquina no joelhos, mãos a postos, batí-la com o queixo. E tenho dito.

Bendito foi o dia que escolhi esse livro, bendito foi o níumero no amigo secreto que me devolveu esse livro, bendito foi o tempo de férias e a vontade de lê-lo bem hoje, um terça-feira chuvosa.

"Manda a verdade que se diga que o cérebro é muito menos entendido em cores do que crê. É certo que consegue ver mais ou menos claramente visto o que os olhos lhe mostram, mas as mais das vezes sofre do que poderíamos designar por problemas de orientação sempre que chega a hora de converter em conhecimento o que viu. Graças à incosciente segurança com que a duração da vida acabou por dotá-lo, pronuncia sem hesitar os nomes das cores a que chama elementares e complementárias, mas imediatamente se perde, perplexo, duvidoso, quando tenta formar palavras que possam servir de rótulos ou dísticos explicativos de algo que toca o inefável, de algo que roça o indizível, aquela cor ainda de todo não nascida que, com o assentimento, a cumplicidade, e não raro a surpresa dos próprios olhos, as mãos e os dedos vão criando e que provavelmente nunca chegará a receber o seu justo nome. Ou talvez já o tenha, mas esse só as mãos o conhecem, porque cumpuseram a tinta como se estivessem a decompor as partes constituintes de uma nota de música, porque se sujaram na sua cor e gurdaram a mancha no interior profiundo da derme, porque só com esse saber invisível dos dedos se poderá alguma vez pintar a infinita tela dos sonhos."

Saramago, A caverna.

Comentários

Fernanda G. disse…
Rai, quanta arte! Arte ao fotografar, ao pintar, ao escrever, ao sentir.
Eu também, a cada dia me envolvo na arte. Me diz, como não se apaixonar?

Neném, na vida, quando não sabemos o que realmente deve ser centro na nossa vida, o vazio vai persistis sempre. Meu vazio acabou quando descobri o centro. Hoje o que me deixa triste é saber o que é o centro e não colocar no seu exato lugar. Sim, no centro. Gosto sempre se contar essa história:
Quando éramos criança, nossa ordem do amor era DEUS-FAMÍLIA-AMIGOS. Hoje, momento em que não percebemos o crescimento, qual é a ordem?
Deus no centro significa preenchimento de vazio. Não significa luxúria ou resolução de problemas como se vê muito na TV. Significa PAZ. Significa AMOR!

Beijoooos

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