Fundoscopia

Gente do olhar fixo, já são pessoas tensas. Oficinas de teatro te obrigam a fazer isso tantas vezes que você acaba fazendo de forma natural. Mas olhar no olho é uma coisa difícil, um pouco tenso.

Falar de olhar acaba sendo tão clichê, que é desinteressante até de ler sobre. Mas o que eu quero dizer é que pior que olhar fixo é olhar fundo. Fixo cansa, até incomoda um pouco. Olhar fundo é diferente.

Quando eu digo fundo, é fundo no conceito de ser o oposto de raso, e, sendo assim, de maneira quase que automática, imaginamos piscinas para poder medir. As rasas são para crianças, sem graça, já se sabe o que se tem ao chão, já se sabe que podemos pegar com a mão, sem muito esforço.

Mas o olhar fundo, é aquela piscina que tem ilusão de ótica, que parece que não tem fim. Escuro, um tanto frio, e curioso. Aquele tipo de olhar que você tem que parar na beira e ficar olhando, olhando, tentando medir até onde seu olhar alcança, tentando imaginar o que se tem ali por trás de tanta água, abaixo de tantas camadas.

O problema do olhar fundo é a curiosidade, o mistério e o medo. Piscinas são diferentes entre si e são diferentes de lagoas, rios, baias, mares, penínsulas e oceanos. Tudo varia com clima, estado de espírito, pode ser mais ou menos perigoso, mesmo que a profundeza seja estática. Eis que esse fundo tudo, te confunde todo e junto com a vontade de pular vem um conselho: pra se jogar tem que saber nadar.


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