A curiosa experiência de escrever para si mesmo.


Ei, você, que usa(mos) a internet todos os dias e o dia todo, estamos juntos nessa navegação virtual de (várias) redes sociais onde vemos pessoas escrevendo o tempo todo para todo mundo ver. Esse texto aqui é um convite esquisito para uma possível experiência curiosa e diametralmente oposta dessa rotina: escrever esporadicamente a si mesmo.

Em 1997 eu ganhei meu primeiro diário e desde lá eu venho cultivando esse hábito pré-histórico. Mantenho comigo meus registros particulares, e sim, eu os acesso. Por muito tempo eu imaginei ingenuamente que todo mundo também fazia isso, afinal, temos agendas, tiramos fotos, então, registrar e guardar informações sempre me pareceu algo fundamental. Só depois me dei conta que poucas pessoas compartilhavam esse hábito e ele não é algo tão fluido e natural.

Em março desse ano conheci pessoalmente David Backer - jornalista britânico, membro senior da The School of Life, fundador da Wired - durante um curso sobre inteligência emocional em São Paulo e fiquei surpresa durante uma das atividades utilizadas no curso. Não fiquei surpresa com a atividade em si fiquei surpresa com os comentários de algumas pessoas dizendo "nossa, que coisa interessante, nunca fiz isso". Escreva uma carta para si mesmo 10 anos mais velho relatando o que está acontecendo com você hoje.

É um exercício reflexivo, íntimo, subjetivo. Talvez por isso seja difícil para algumas pessoas. Estamos acostumados a falar, contar, escrever, sempre usando ferramentas de comunicação para um receptor externo. Quando o assunto é difícil ou segredo a gente guarda pra si "em pensamento". Mas qual a graça de escrever pra si mesmo?

É interessante comentar que o ato de escrever por si só pode causar sensações mesmo que se jogue fora em seguida, pois "as palavras têm poder" mas eu não vou me arriscar a discorrer sobre isso. A graça de se enviar cartas é que quando você acessar o conteúdo anos depois, é como se comunicar com outra pessoa, porque seu eu mais novo e seu eu mais velho são pessoas diferentes separadas pelo tempo e pela experiência.

Existem formas de fazer diários, registros pra si. Pode ser uma conversa, um desabafo, um relato, uma carta formal pra quem assim preferir fazer. Pra algumas pessoas é mais fácil fazer poesia em primeira pessoa, pra outros uma descrição observadora, pra outros fazer perguntas e respostas, somos tão diversos que não existe fórmula. É legal não apenas escrever quando se está triste, é bacana imortalizar sensações boas também - soou como sugestão e é. Antigamente quando a fotografia era coisa rara a gente guardava e pra depois "senta, vamos ver o álbum" e ficávamos apreciando imagens, imaginando, lembrando, ou até sentindo de novo. A onda de escrever pra si pode ser mais ou menos nesse sentido. A metodologia varia, os objetivos também e como toda não-ciência tem efeitos únicos.

Sou muito suspeita a dizer, e prefiro o tom de convite do que propaganda, mas considero essa experiência minimamente curiosa. Ela é do tipo "só experimentando pra descobrir no que pode dar". Deixo em aberto o questionamento: em tempos modernos de enxurrada de opiniões e comentários dos outros, o que você teria a dizer para e/ou ouvir de si mesmo?



Abaixo coloco dois links como exemplo de recados que atravessam o tempo.

Vídeo muito massa da Jout Jout de 23 anos mandando recados para si mesma com 13.

 https://www.youtube.com/watch?v=wlA8pMXGssY

Reportagem de pai que faz cartas para filhos lerem suas experiências durante a infância.

https://www.hypeness.com.br/2014/03/pai-faz-blogdiario-para-registrar-momentos-que-seus-filhos-poderao-acessar-quando-adultos/

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