Àquilo que se vê.

Moldura clara e simples, que disfarce.

Numa mesa curta, o dia vira noite e a conversa corre horas a baixo. 'Fui anotar os defeitos e de você só achei um.' Curioso. Vivo a me redimir diante meus deslizes pensando em um modo de talvez pôr  açúcar no jeito de passar pelos corredores de minha rotina, mas nunca consegui essa proeza de notificar apenas um sozinho único defeito solitário, você veja. E qual o seria. 'você não é previsível'.

Viva o mistério da vida, pessoas previsíveis perdem o ar da graça. Catapimba

Transito entre dois mundos e não deixo de os separar apesar de estarem os dois concomitantemente me consumindo e me sendo todos os dias de existência. O ser o sentir o mostar e o agir sempre sendo testados o tempo todo, mais testes e provas e pontuações o tempo todo todos sendo avaliados, sendo, sentindo, nem sempre mostrando mas sempre agindo. Se o agir condiz com preceitos pré-estabelecidos são outros quinhentos e é ai que entra o ar da graça.

Nunca se sabe o que se passa por dentro, sem magias, tecnologias, só questionamentos, não há poder suficiente que arranque de todos os seres o mais subterraneos segredos sagrados. Eu não gosto de quem acha que consegue me ler. Meu coração é uma ilha a centenas de milhas daqui. Tenho só pena das conclusões que chegam a partir de meras deduções de minha face, e não venham confirmar, pois a vida é um grande blefe. O que é viver senão plagiar, copiar, repetir e nunca ter certeza de nada.

E venhamos, e convenhamos, vivemos nesses dois mundo assim, sem apresentá-los um ao outro e sabendo que os dois se encontram e são o mesmo dentro de si, de sua pessoa. E o fora, o que se vê, é o que se quer parecer com disfarces, até quem quer ser o mais transparente dos indivíduos não sabe de si mesmo que escondendo o óbivio só basta abrir os olhos pra ver a farsa.  Então o dia amanhece eu ainda nao dormi. Pra não amanhecer junto com o dia, para o dia, para levantar, me vestir e sorrir pra quem passar, sendo sentindo mostrando e agindo como outro qualquer que assim o faz ao levantar. Eu sou uma terceira pessoa, e minha câmera filma de uma visão aérea, tudo bem que fora de foco mas se assim não o fosse eu seria um deus

Saibamos que não há motivo maior que me faça querer substituir meu tempo comigo mesma por tempo convencional, com o normal, com o ordinário, com o nada, vazio, o mesmo, o sempre, o de todo dia, de praxe.  Igualmente aos milhares que assim o fazem sendo sentindo mostrando e agindo sabendo da plena magnitude de ser um único e exclusivo ser em toda a humanidade e que não há lugar no mundo que exista outro como você. Mas que coisa ímpar, esse espelho assim, minha identidade, minha cara, limpa, depois de lavar com sabão que passa na tv e vende a rodo e todos passam na cara e depois se olham assim, sozinhos, sem compromisso de ser pra ninguém, só pra se olhar no fim do dia, e lembrar de tudo que aconteceu, se julgar e se dizer o que se quer ouvir e se falar o que se quer dizer e pronto e ponto. Assim se segue, com as vozes todas diferentes que repetem as mesmas frases e assistem o ciclo da vida começar e acabar começar acabar e é incrível que mesmo estando todos mergulhado num mar de infinitas possibilidades existe e persiste a tendencia de se mostrar o obivio e repetir o que ja foi feito e o que é garantido, o que é aceito. 

Então o poder criativo dos seres pensantes se limita a trocar o prato do cardápio do dia sendo que os mesmos ingredientes que vêm dos mesmo lugares estão à mesa, e só se muda a dosagem e a ordem de misturar tudo. Porque o estranho pra mim é poesia. Mas pra que diabos tenho que corresponder com preceitos com normas e regras se ninguem se encarrega de manter a ordem. E agora eu fico na dúvida se mostro ou nao mostro aos meus filhos que a liberdade não existe. Vou dispor essa descoberta ao proprio senso critico de cada um e que eles se peguem em plena nove da noite gastando tempo, se achando a filosofia em pessoa, sem perceber que todas essas palavras mal ditas caem sempre no mesmo clichê, o mesmo o mesmo, mas isso não é bobagem. Pelo menos serve pra se chegar à singela conclusão de que  nascemos, crescemos e morremos num grande e eterno museu de novidades.

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