searching for a better way

Oito e quinze, elevador, e vinte, trânsito. Meu sábado não ia ser um dos melhores, as minhas sobrancelhas já diziam em bom tom. 'Você tá tensa'. Não sei bem se esse seria o melhor adjetivo, mas não estava muito longe disso. Assim, cedo, estava eu fugindo da minha emocionante rotina. Na verdade, não fugindo dela, mas transferindo-a de lugar, um lugar onde eu pudesse concretizá-la no longe, no frio, no branco. Numa biblioteca. Longe das paredes verdes do meu quarto, sem o assovio da minha janela, sem as vozes da televisão da sala, sem a oportunidade do travesseiro sussurrar meu nome. 

Eu esparava muito profundamente que esse meu plano desse certo. Minha ilusão era que meu cérebro trabalhando com memória associativa estive ligando meu espaço com a hora de descanso, e uma mudança pra um lugar propício eu conseguiria enfim, estudar quantas horas seguidas meu estômago sem almoço pudesse alcançar. Assim, sem descanso, mas minha força de vontade anda pedindo carta de aponsentadoria e isso me soa tão estranho. Agora era hora de estar plenamente afim, e estou, mas minha dedicação que era unifocal hoje divide espaço com outras questões, que sejam elas, banais, mas ando com a sensação de que me falta a décima terceira fragância pra completar meu cheiro, e isso me consome. Façam o favor de sair de minha cabeça. Talvez seja mais normal do que eu imagine, ainda mais assim em plena fase de transição e no centro do olho de um furacão de informações e mudanças bem significativas. 

'Esse sinal demora de abrir, né'. É, eu sempre soube que sim. Mas naquela manhã eu não soube classificar se demorava ou não. Minha relação com meu relógio está sendo muito mais conturbada do que já foi um dia. Organização e paciência, não se acha no supermercado, e nem se  deveria achar. Ui, ui, meus problemas. Esse tempero ta ficando mais salgado, mas fui eu quem escolheu assim, eu só preciso de um pouco de paz, eu acho. Até meu fiel mp3, tava meio de pirraça, assim me testando, como várias outras coisas durante a semana, mal contato do fone de ouvido e a música já tinha começado não sei por quantos segundos. City and Color, mergulhou no meu ouvido bem alto dizendo 'theres people searching for a better way', eu me arrepiei confesso.

Meu humor estava alterado para fora do estado normal e eu tinha pulado essa parte quando lia o manual de instruções da vida. Então eu vi por entre os carros, sobreviventes. Me mostrando a manchete do jornal, divulgando e vendendo a piarataria, vendendo quiçá seu sofrimento pro meu despertar em troca do troco. O senhor, sem as duas pernas, depois de pegar as moedas e antes do vidro fechar-se por completo apontou dizendo: 'você já viu em que estado está este pneu?'. Pronto, eu que tinha acordado às cinco pra aprender a dirigir devo ter feito algo besteira, seria mais uma ruga. Pra desfazer a rosto preocupado do meu pai, ele disse sorrindo: 'está no estado da Bahia'. E conforme o mundo é mundo, todo e qualquer abismo é navegável à barquinho de papel. Sempre há um bom motivo.

Comentários

Unknown disse…
eu lembro desses dias...

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