O bastante para fazer sentido.

Hoje é domingo. Acordei cedo e não estou na minha casa. Estou no Rio de Janeiro, em plena Copa do Mundo, mas não vim por causa de jogo, ou pelo Brasil. Pelo contrário, amanhã vou entregar documentos para fazer meu visto e passar um ano na Escócia.

Mesmo escrevendo, e lendo várias vezes essa frase, estou demorando de acreditar. Sabe quando você assiste um filme bacana no cinema e sai de la com uma sensação boa? Aquela magia vai passando quando você volta para a rotina e vai recebendo na cara os tapas da realidade. Mas o estranho é que com tudo isso que anda acontecendo eu sinto essa sensação e ela não está indo embora. É lindo, porém tão novo e estranho, que parece filme. Tão mágico que é como se eu ficasse sem saber se aproveito e mergulho ou se fico alerta e atenta, pois a realidade está escondida em algum lugar pronta para me dar aqueles tapas secos.

Mas hoje eu acordei cedo, fora de casa. As pessoas ainda dormindo, eu simplesmente coloquei um casaco e um short e sai. "Vou andar na praia sozinha", bem como se faz em filmes. Estava nublado, ótimo, isso espanta pessoas, e a praia quase deserta criava mais ainda o ar de fantasia. Coloquei meus fones, minha música, cliquei em repetir eternamente e fui dançar na areia. Meu público naquele instante era o mar.

Algumas pessoas passavam, olhavam. Ficavam olhando. E eu não faço a menor ideia do que elas estavam pensando. Não tenho nem hipóteses. E não as tenho porque não quero ter, porque eu incrivelmente não me importo. Eu sentia o vento frio da liberdade, a leveza de grãos de areia soltos, a autonomia das ondas geladas do mar.

E a música se repetia, e eu mal tocava no celular, sem pausar, sem voltar, só fluir. Fui criando, imaginando "como será no dia". Esse dia é o dia do meu aniversário. Dia que eu escolhi para dançar uma coreografia depois de dez anos sem me apresentar. Hoje eu encontrei um estilo de dança que é meu. Chamo de meu porque eu sinto que me completa, me permite, me preenche. É solto, é livre. Não preciso de calçados, roupas, ou parceiros, não preciso de espaço, de luz, de nada. A dança que sai de mim, os movimentos são meus, eu me controlo, eu me exponho, eu me retrato, eu mostro o quanto eu me conheço, o quanto eu me satisfaço e sou plena. É como dominar uma linguagem própria, sabendo que as pessoas irão te entender.

E foi isso que eu senti. Uma plenitude estranha, nova, linda. Uma sensação que é minha, e mesmo que eu escreva pra imortalizar, talvez quem leia não entenda, mas eu certamente vou me lembrar.

Como Raul Seixas disse, numa música grandiosamente simples: o sonho que se sonha junto vira realidade.
Não sei o que será no dia, mas só de estar atravessando as etapas eu me sinto muito feliz.
Dancei de olhos fechados e sorrindo, e quando a música acabou nos fones de ouvidos, uma onde tão forte se quebrou que eu acordei sem saber se era simplesmente barulho de mar ou eram aplausos.

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