Depois de morto nãaaao vale.

Num dia de semana, uma de minhas tias me chamou pra acompanhá-la num aniversário. Convite como esse não tem como recusar, mesmo sem conhecer ao menos a aniversariante, eu tinha certeza de que ia ter gente que me conhecia pra perguntar "essa aqui é a filha de Aninha?", então eu fui.

No caminho eu perguntei quem era a aniversariante, pra não dar parabéns a pessoa errada, ou pronunciar o nome errado. "Reni, ta fazendo 74 anos.".
Pronto. Aniversário de velhinhas, vou conversar sobre novela e tomar caldinho quente. Foi o que eu pensei. Na porta da casa, de estilo antigo, eu avistei sala cheia de cadeiras e muitas, muitas mulheres e velhinhas. Dindinha, Zezé, Zenilde, Naná, Celícia, e por ai vai. Eu pensei ser a mais nova ali, antes de uma menininha passar correndo. Era neta de uma delas.

Ttinha um sofá pras rezadeiras, que iam cantar musiquinhas e ler textos pra homenagear a Reni, antes do aniversário começar. Elas tinham muuuuito senso de humor (pra vocês que pensam que velhinhas são paradas e sem graça, saibam que estão errados) . Eu sentada, calada, prestando atenção em tudo que elas diziam.

A maior de todas começou a ler um pedaço de papel: "Tem gente que mede a vida em dia, meses e anos. Mas será que é mesmo o tempo que mede a vida da gente. Porque não medimos em amores, sorrisos, amigos e emoçoes?" Não lembro do texto todo, mas dessa parte eu realmente gostei.

Outra com a roupa mais colorida, levantou e se pôs a falar um texto de própria autoria. Começou dizendo como conheceu Reni, como Reni era, o jeito, as qualidades "Boa mãe, boa filha, boa esposa, boa amiga...", gritam lá do fundo "boa sogra!" e ela completa "eu ia dizer boa sogra, mas fiquei na dúvida", enfim. Quando aquele discurso (que me pareceu bastante sincero) terminou, algumas pessoas que começaram a bater palmas, foram interrompidas pela própia Reni que tinha algo a dizer.

Sentada mesmo ela agradeceu e indagou muito inteligentemente:
-Que bom que eu posso ouvir todas essas coisas agora, a maioria das homenagens como essa só são feitas depois que a gente morre.


Viva a Dona Reni, que no próprio aniversário de seu 74º ano de idade, se lembrou do valor que certas coisas têm, de que nunca é tarde, e sempre há tempo.
Tomem cuidado vocês também, nunca se sabe se hoje ou amanhã, alguém querido vá entalar com um caroço de umbu e morrer.

Oo

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