Esse assobio do assovio

Eu sempre tentando me concentrar, você me vem com essa mania de chamar atenção parecendo um gato com fome. Eu já disse pra não me provocar. Até já comprei um peso de papel mas parece que vou ter que ver outro pra segurar a outra ponta do caderno, só porque você não sossega. Ainda por cima, de pirraça, aproveita meu cabelo mal lavado pra fazer cócegas com o frizz, no meu nariz!

Abre a porta do meu guarda-roupa, pra que esse exagero? Se eu me aproximo da janela balança minha saia na maior ousadia! Eu estou ocupada, não vê que eu não quero brincar? Tudo bem que eu já te disse que até gosto quando os pêlos do meu braço sobem, mas é só de vez em quando. E se minha paciência acabar eu vou aí te estrangular devagarzinho, só pra ouvir seu assobio, e apertar mais pra ele ficar mais agudo, mais intenso. Não se preocupe, não vou te sufocar, sei muito bem o quão é espaçoso.

Enfim, as vezes sou chata, a gente briga, mas depois passa, né? Mas sempre vou deixar a minha janela aperta pra você entrar, e minha porta aberta pra você circular. Mesmo teimoso e indomável, você, assovio, é o bicho de estimação perfeito pra ser criado em apartamentos.

Comentários

Anônimo disse…
Como sempre uma Visão inteiramente original de um tema aparentemente banal!!!

excelente, Raisa!
andré henrique disse…
quando precisar que eu cuide dele, vai ser um grande prazer. : )

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