Dilúvios em fevereiro.

Qualquer pessoa que tenha percepção, mesmo que apenas suficiente pra sobrevivência, nota quando o clima sofre alteração. Tudo começa com o estranhamento, a noção de que algo está incompatível com o que pra nós é comum é dada pelo uso dos cinco sentidos humanos, ou talvez quatro deles.

A visão denuncia que a claridade é menor do que nos dias ensolarados, e se ainda não é noite, o motivo mais pertinente pra radiações não chegarem diretamente à você é as nuvens. E quanto menos claro estiver mais firme é a conclusão de que as nuvens estão densas e pode chover a qualquer instante. Um instante. Tempo suficiente para os olhos exercerem seu papel de janela para o mundo exterior e permitirem a formulação de interpretações, obviamente até para textos não-verbais, como a chuva. Mas os mesmos olhos, que nos deixam compreender o que acontece no lado de fora, bobeiam, juntamente com rugas e sobrancelhas, e deixam notório a idéia que se passa por trás deles, no mundo interior.

A audição talvez seja mais eficiente, em termos de rapidez, porque é um dos mecanismos mais ágeis que compõe a percepção instintiva de algums seres do reino animal. Uma gota, duas, três. A chuva começa batendo na janela e a gente se perde olhando os pingos escorrendo, até apostando qual deles chega primeiro. Só com os ouvidos, sabemos se a chuva está "fina" ou "grossa", se vai demorar ou vai ser curta, os trovões que começam tímidos avisam que a chuva não será uma qualquer.

O olfato não é tão aguçado no ser humano mas serve tanto pra nos proporcionar prazer em frascos quanto pra nos alertar quando algo está errado - 'isso não me cheira bem'. No caso da chuva, sabemos que a água é considerada inodora como também sabemos que a água da chuva não é pura, mas mesmo assim continua inodora. O cheiro característico não é da chuva em si, é do ambiente modificado por ela. Quando tudo fica úmido o odor parecer exalar mais facilmente - esse é um dos motivos pelo qual se passa perfume nas costas do cotovelo, a chance de suar é grande e o cheiro se espalha mais fácil - em dias chuvosos, o cheiro é de terra molhada.

O tato, sendo o sentido que primeiro se desenvolve, chego a considerá-lo, erroneamente, o mais importante. Para sua efetuação é preciso o toque. A sensação se dá no contato direto com a pele, exceto a percepção de temperatura, consequentemente, do clima, é tocando que podemos identificar texturas, dureza, sentir "de fato" dores e prazeres. Porém, mesmo protegidos com teto e vidro, o contato da chuva com minha a pele pode ser direto. As manifestações ocorrem a quilometros de altura e num raio de ação de uma região inteira e mesmo assim a pele corresponde cada gesto. Um relâmpago que ascende o céu de uma maneira consideravelmente uniforme faz um arrepio percorrer o corpo inteiro, um raio que é mais perceptível, concentrado e intenso determina um calfrio ao longo do interior.

Pode acontecer de sentir medo por causa da característica indomável da natureza, mas não se preocupe pois a chuva não imiscuir-se-á no paladar.

Comentários

andré henrique disse…
vigi gente!


eu até ia comentar com palavras bonitas que nem as do texto, mas eu não sei quais... fugiram...


Jogou, hein, flor?


- só esqueceu do cheiro da terra molhada (lero-lero)
Raísa disse…
=)
pena que você dormia
marialais disse…
Oi, gostei bastante das suas publicações. Vi que você é de Itabuna, não é?
Parabéns pela sua forma de expressão. Beijos
marialais disse…
Ah sim, valeu. ;)
beijos

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