A história das três rosas

Fim de tarde e eles ainda corriam pra resolver tudo antes de anoitecer e ficar perigoso pra voltar pra casa.
-Pode ir que eu te encontro lá.
-Onde você vai?
-Vou ver um negócio ali. Pode ir, eu não demoro.

Seguiu um pouco desconfiada, chegou, sentou, fez a inscrição e em seguida ele, sem demora como havia dito. Ainda tava diferente por motivos antes comentados, ela descia a escada um pouco mais à frente e devagar, sem prestar atenção em nada. Sabe qual o melhor jeito de abordar uma mulher destraída? Uma rosa. Pelo sorriso, pela falta de jeito, pela reação sincera.

Silêncio até o meio da ladeira.
-Sabe, quando eu fui comprar, perguntei à moça qual cor devia. Se era a cor do que ela passava pra mim ou se era a cor do meu sentimento por ela, a moça disse: 'rosas são da cor de nosso desejo'. Sem dizer nada, ela só conseguia sorrir contraindo as bochechas sem relaxar, sem mostrar os dentes, sem olhar para os lados.
-Engraçado.
-O quê?
-Você ficou na cor da rosa.

Um mês passando, até os nem tão próximos conseguiam perceper as diferenças entre os dois. Diferenças não tão poucas que causam discussões pequenas, mas não tão poucas, e outras mais intensas, poucas, mas suficientes pra pedir conversa na finalidade do 'tá tudo oquei'. Mais do que nunca ela precisava de apoio e ele mais do que ninguém sabia dar, mas a história tem começo distante e não é tão simples, mesmo porque uma cabeça de mil preocupações esquece de medir palavras que serão cuspidas no ouvido mais próximo e um porto seguro não deve ser maltratado.

Penúltimo dia de viagem, antes das três horas da tarde sem que o celular desperte, um pouco de pressa; 'tenho que trabalhar'. Um diálogo que pareceu um monólogo, das costas, ou não sei de onde, ele tira uma rosa branca. Um dia passa a ser branco 'se você quiser e vier comigo', brigar desgasta qualquer que seja a relação, a rosa era nova, fechada, tava pra se desenvolver com o tempo. Ela não esperava.
-De onde você tirou a rosa sem eu perceber?

Sem ao menos responder veio a terceira rosa, amarela e mais aberta, mais madura, mas fiel, minha amizade. Poucas palavras mas tudo tão necessário e tão claro, sensato, compreensível e depois de um abraço mais do que na hora certa, hora de ir. Um sorriso, um copo d'água, um beijo longo nas duas rosas que apesar de serem efêmeras por serem vivas, tiveram o privilégio de nascer depois da escrita que consegue perdurar mais do que objetos e ações, perdura lembranças.

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