O texto do convite de formatura

Este convite de formatura em sua mão, apesar de não ter o formato tradicional, tem um objetivo bem óbvio: convidar. Tendo a chance de fazer do meu jeito, eu vou começá-lo contando uma história verídica. O ano era 1994 e a cidade Irecê. Todos comentavam sobre e se preparavam para uma festa infantil dada por uma família venturosa. Uma moça comprou roupas novas para as duas filhas, contudo, na véspera de sair de casa, a mais velha, de 5 anos, disse que queria ir com seu vestido usado na quadrilha de São João. Conhecendo a personalidade forte da menina, ela sabia que tanto
convencê-la de ou forçar o uso da vestimenta padrão deixaria o calundu ser maior do que a chance de a criança usufruir de sua escolha e se divertir. Diante disso, a menina foi a única da festa com vestido de quadrilha e apesar dos olhares tortos a mãe não hesitou em permitir o fato e explicou no fim "eu via de longe que ela brincava de um jeito a parecer ser a criança mais feliz da festa." A moça da história se chama Ana que, graças a Deus, é a minha mãe e a criança feliz é minha querida irmã Ana Carla.
Desde que fui pega de surpresa na quinta série pela diretora do colégio em Itabuna com a pergunta "o que te faz feliz?", eu procurei achar as respostas como forma de melhor guiar minhas escolhas e descobri o quanto Dona Canô tem razão em dizer que "ser feliz é pra quem tem coragem". Na última aula de matemática no cursinho pré-vestibular em 2008 o professor recitou um poema que dizia assim: "Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces e estendendo-me os braços, seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) cruzo os braços, e nunca vou por ali...".
A poesia da serendipidade e dos sonhos possíveis sempre me deram essa coragem para não seguir de maneira automática os caminhos fáceis demais. Aprendi com meu pai a ter disciplina e firmeza e com mainha a ter tolerância e leveza. Apesar desse texto não ser tão tradicional o convite que tem na mão não passa de um clichê repetido batido cansado e romântico. Quero convidar você a perceber como ser firme e leve podem parecer opostos e imiscíveis quando na verdade são complementares e patrocinadores de um possível movimento harmônico que nos ajuda a sobreviver nesse caos chamado realidade.

Dizem que a vida é como andar de bicicleta: para seguir em frente e ter equilíbrio devemos manter o movimento. Sendo apaixonada por dança confesso ser fascinada por movimentos. Dançar é uma questão de liberdade e melhor do que dançar sozinho é compartilhar esses passinhos básicos que envolvem firmeza e leveza: Levantar das zonas de conforto que nos paralisam, dar uma sacudida em possíveis mágoas e arrependimentos que nos pesam as costas, respirar e perceber que talvez as pessoas mais precisem de carinho justamente quando menos merecem, rebolar nas adversidades, recuar no intuito de observar melhor e pegar mais impulso, dar meia volta e não permitir que zueira e a política te tirarem do sério, correr atrás dos seus direitos e do que te faz feliz sem esquecer de fazer a curva sempre que cruzar os limites do exagero e sair do saudável.
Talvez, com o tempo, você fique mais leve e habilidoso e essa coreografia se torne mais complexa e prazerosa: se perder nas histórias dos livros, arrancar gargalhadas dos amigos, fazer as pazes com seu organismo e a Natureza, até mesmo rir das ofensas, priorizar o que realmente importa para que você seja enfim a criança mais feliz dessa festa chamada vida, apesar dos olhares. Sim, é possível ter coragem para alcançar nossos sonhos, concluir nossos cursos, não ter vergonha de escrever textos esquisitos como esse, conseguir convencer seu pai todo sério a se sujar de várias cores e ainda encerrar com uma frase de Raul Seixas e um convite descolado: já que "sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade", e ai, vem sonhar com a gente?

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