Boulevard de sonhos quebrados

13 segundos de pura distração e um susto com a porta do elevador se abrindo.
Sempre às nove e tanta voltando do trabalho, o corpo cansado, a cabeça perecia que não queria desocupar de números e gráficos e a chave parecia não querer sair do bolso.

Sapato perto da cama, e no caminho da cozinha, volta a se lembrar daquelas palavras que ouvira no dia anterior, e causaram nauseas durante toda a segunda-feira.

"Quando as vontades não são as mesmas, nem adianta. Meu mundo é diferente do seu. Seu mundo é diferente do meu".
Tentou interpretar aquilo de algum jeito que tivesse saída. Não conseguiu, estava claro. Quente de pensar como aquilo podia ter acontecido se estava tudo tão bem, o calendário pendurado do lado da geladeira deu um estalo tão grande, que até se queimou com café que estava mais quente ainda. Já passava das dez, mas mesmo assim tinha que ligar.

A frase não dava espaço pra ambiguidade, mas a última esperança se fez ao ver que ontem tinha sido dia primeiro de abril.

Do gancho ao sofá da sala. Clic. "Alô?".
Respira fundo. "Eu já entendi, só liguei pra dizer que eu sei que ontem foi dia primeiro..."

"Não... Abra os olhos e sonhe, feche e veja a realidade."

No sofá dormiu, no sofá acordou. Era terça dia três. Do mesmo jeito ficou, mas agora não tinha desculpa de que ontem era dia de mentir.