Não tem carteiro certo.

As passagens já estavam na mesa fazia dias. Como sempre, a mala foi deixada pra ser feita no último deles. A pressa era pouca e lembrando da caixinha de recordações, bateu vontade de olhar antes de ir embora.

Fotos, cartas, diários e até pedras, papeis de bala e cabelo. É divertido. Depois de ler os garranchos de oito anos, viu no fundo da caixa algo mais recente. Uma carta endereçada e que nunca foi enviada. Estranho.

Pelo envelope barato dava pra ler algumas palavras, letras marcantes pra palavras bobinhas. Mas tinha algo significante, expressivo, como um desabafo. Não tinha o peso de um papel normal. Só não lembrava o motivo que fez não chegar onde devia.

Enfim, vontade de jogar no mar, pra ele escolher quem fica e quem vai. Arriscar. Afinal, não dá pra saber se tudo teria sido do mesmo jeito se o dono tivesse lido, e provavelmente não seria. Foi falta de coragem.

Agora anos se passaram e a carta preserva a cola, do mesmo jeito que a boca vive costurada. Chegou com ela dobrada no bolso do casaco.
Pensar que se falou demais é, de fato, melhor do que saber que se falou de menos.

Comentários

Unknown disse…
flooor, que texto bonito ><
Anônimo disse…
"Pensar que se falou demais é, de fato, melhor do que saber que se falou de menos."

!!!!!

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