Pequeno manual adivinhatório.

Quando ele estava passando de carro, pelo caminho de volta pra casa, de primeira achou que fosse impressão, mas com frações de segundos viu que aquilo realmente se tratava de um homem caindo no chão.

Jaqueta pro lado, joelho no chão. Um, dois, três e nada.
Não tinha sangue nem sinal de violência, pela idade parecia ter sofrido uma parada cardíaca.
De novo. Um, dois, três, não tinha reação.
O rapaz deixou o medo dominá-lo só por cinco segundos.
Um, dois, três. Num espanto o senhor abre os olhos e em função do reflexo grita:
-não me bata!
-calma, calma.
-não me bata! por favor!
-não, não. O senhor tava morrendo!
-morrendo?
-é, morrendo. Eu vi você caindo, seu coração tinha parado
-eu tava morrendo...
-foi, mas eu tava passando e...
-e você me atrapalhou!
-ma-mas meu senhor, achei que era o que eu devia fazer!
-isso ta errado!
-como assim? eu te salvei, e você...
-ressureição!
-o que?
-não, não, não!
-meu senhor, fique calmo, eu te levo...
-NÃO! não é possivel, algo me prende, algo me prende. Ainda não é a hora.

O jovem com os olhos no máximo de sua abertura, não sabia como reagir. Um feito que poderia ser héroico transformado numa coisa paranormal. Sinceramente aquilo parecia que não estava acontecendo e dando outro susto o velho deu outro berro:

-A sensação de coisa mal resolvida não me deixou ir. Essa é a hora, essa é a hora.

Como rádio velho ele seguiu, atrevessou a rua em passos apressados e sumiu na esquina mais proxima.

O moço estático esqueceu a fome e sentou num banco pra acordar do pesadelo que ele tinha visto. Parou pra lembrar alguma coisa que ele deixara mal resolvido, pra quem sabe ter a segunda chance de resolver depois de morto - ou quase morto - e ser salvo.

Pensou também em como seria a vida do velho depois desse episódio, e num terceiro susto eis que surge o morto-vivo ou o vivo quase morto, voltando com a mesma pressa com que tinha ido, se posicionando no mesmo lugar onde tinha acordado e ali deitou. Com o sorriso no rosto endureceu.

Ele poderia ter vivido, mas preferiu a morte de consciência limpa do que não ter de novo uma chance daquelas.

Pura sorte, sorte pura.

Comentários

Anônimo disse…
POW !!!

"ele poderia ter vivido, mas preferiu morrer de consciência limpa"...

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