Lá em terra de palmeiras...

Das alternativas que restam, esperar sempre há de ser a menos confortável. Andar por ruas tão largas talvez não seja o modo mas fácil, mas o que poderia eu fazer quando não se resta muito o que fazer? De alternativa para saída, andei, entre ruas e rostos, e cansada de procurar só com olhos e intuição, entreguei-me a todos que por ali passariam. Pisiu pisiu pisiu. Um tanto curioso que poucos responderam. Pisiiiiu, ei, é você, vem cá, vem. Conferir se o verdadeiro receptor da fala não se dispõe em suas costas é comum. Pisiu! É com você mesmo. Veio e até ousou a projetar o meio sorriso de ego. Você sabe do meu bem?

E assim, sucessivamente, dava pisiu e perguntava por meu bem. Houve quem me perguntasse o porquê. É que tendo um coração vazio, vive-se assim, a dar pisiu. Uma tarde inteira e no caminho de volta, que já sinalizava a minha desistência, eis que vejo o Sabiá. Sabiá! Vem cá também!, estranhou mas me atendeu, Diga, disse virando-se pra mim, Tu que tanto andas no mundo, tu que tanto já voou, onde anda meu amor, eenquanto a esperança enchia-se de mim ele respondeu, Eu devo ter cara de GPS, mesmo contrariada supliquei humuildemente, Diz por favor, tu que tanto já voou, ele riu mesmo antes da piada e disse, Olhe, esse negócio de correio é com a ala de pombos e não com a de canoras. Depois dessa já alterei o tom de voz, Diz por favor, tu não tens pena d'eu, o sabiá mais que posudo ainda se atreveu, Bom, pena eu posso até ter, e várias, o que eu não tenho é dó.

Me perdoe Gonzaga, mas se cá tivesse um estilingue! Nada, esse meu coração mesmo vazio, não deu espaço a outro sentimento a não ser o vazio deixado por meu bem. Não contive o choro, o sabiá se comoveu. Menina, não fique triste pela rudeza desse sabiá velho. Meu olhos marejados já brilhavam mais que todas as estrelas que aquela ave já podia ter visto. Não posso trazer-te teu amor, mas já que falo aos passarinhos, canto, gorjeio, alivio tua dor.

Comentários

Que lindo, Rah! Tamanha criatividade.

Essa de 'eu tenho cara de GPS' foi massa!

Adorei a analogia do conto com a música.

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