Quem merece um muxoxo?

Minha alma inquieta se segura numa cadeira com um braço só. Minha mente que costuma dar voltas em universos não paralelos tem que se limitar e captar informações, aquelas informações. Por sina,l eu estava pagando para tê-las, e por sinal² não era pela primeira vez.

'Eu queria que vocês prestassem atenção'. Certo certo certo. Se concentre. Corrente. Certo. Hum, sentido real, sentido convencional, certo. Quantidade de carga que passando por uma secção tal em um certo tempo, intensidade, certo, certo. Não tinha mais ninguém na sala, a não ser eu, o branco do quadro, a boca do professor e minha concentração. Ela é teimosa, e de lua. As vezes dá trabalho de chamar, as vezes é difícil manter. Nunca se sabe. Enfim

Corrente, elétrons passam loucos, juntos em busca de um sonho de um potencial menor. Todos num movimento ordenado. Tudo bem, até ai tudo bem a corrente é continua e eu estava acompanhando. 'Na corrente alternada, tanto a intensidade quanto a direção da corrente variam, o melhor exemplo está na tomada da sua casa onde isso acontece 60 vezes por segundo'. Oo

60 vezes por segundo? Putz, lógico que eu parei pra ter noção do que é isso. Imagine você andando, antes de você chegar já mandam você voltar, antes de pensar em voltar já tem que ir de novo. O elétrons devem ficar loucos loucos loucos loucos, coitados, indo e voltando indo e voltando indo e voltando. Essa trabalheira toda pra fornecer energia pra quem nem sabe de sua existência e fica estatelado no sofá, mudando com o controle remoto vários canais, só mexendo os olhos e um dedo. Enquanto isso os elétrons estão loucos loucos loucos correndo insanamente de um lado pro outro e ainda por cima 60 vezes por segundo! Como deve ser difícil ser um elétron, poxa.

Eu estava comovida com essa realidade, devo ter feito alguma cara estranha. Talvez. "Você quer perguntar alguma coisa, pergunte." Eu repeti várias vezes que não era nada, mas não deu jeito, professor quando quer tirar dúvida é insistente. Podia ter inventado qualquer coisa, mas eu não estava numa frenquência de inventar mentiras facilmente. 'Nada, era só porque os elétrons devem ficar loucos indo e voltando 60 vezes por segundo.'

Até quem badernava como o diabo parou e o silêncio se fez. Quebrado em seguida com o 'Ah' do professor. Sim, tudo bem "af, que merda hein", ninguém mandou perguntar, ora bolas. Como se não bastasse, alguém não tão próximo largou o velho companheiro de quem ouviu e não gostou: o muxoxo. Aquele barulhinho - promovido pelo conjunto lábios, dentes, língua e indignação - irrita.