Garotos são gases?

Dia dos namorados. Há quem esteja ansioso e há quem finja completa normalidade, afinal, apenas mais um dia comum. Para as pessoas que se encaixam na segunda opção, eu não recomendo assistir o filme que passa na TV num dia desses. Logo cedo, o professor de química começou a aula com uma observação até então coerente: saiba diferenciar um gás perfeito de um gás real.

"Gente, gás perfeito é teórico, não existe. É uma suposição para efeito de cálculo, uma idealização." Eu que lia Lucíola não pude conter a comparação entre a química e o romantismo de Alencar. A idealização só existe pra efeito da escrita, no mundo real não é assim. Tanto é que quando o efeito passa, vem a onda de realidade. O perfeito é tão impalpável, que é complicado até imaginar. Algo sublime e sem defeitos, será que existe? Que defenda Platão com seu "mundo das idéias" ou os românticos nos apresentando adjetivos que chegam a derreter uma página.

"Os gases existentes na natureza são reais. Mas estes podem se comportar como ideias quando submetidos a certas condições". Pois então, a depender das condições estabelecidas, o gás real pode ter seu comportamento aproximado ao de um gás ideal - que gás sabido, não? Abusando da química metaforicamente como uma ciência psicosocial, diria que as tais modificações de condição podem ter origens diferentes.

Na origem externa, talvez o gás nem saiba que está sendo idealizado para que nós possamos fazer os benditos cálculos. Mas há uma sutil diferença entre um estudante que conscientemente adota suposições e a consciência de quem recebe os neurotransmissores da paixão. Na origem interna, o gás, que mesmo sabendo não ser perfeito se comporta como tal, altera suas condições por certo tipo de interesse próprio, para atingir algum objetivo.

Idealizações e fantasias serão sempre bem-vindas. Um casal em harmonia vê completude e perfeição, quando o comportamento ideal de um é ditado pelas condições estabelecidas pelo outro e vice-versa. Se assim houver satisfação, a ressonância é mantida. O caso da idealização inadequada é quando ela se dá por condições que não podem ser controladas por quem está apaixonado. O problema da destruição de expectativas é delicado e frustra. Para idealizar sem medo, mantemos um pé atrás e o outro na frente, numa distância que nos permita tanto fantasiar e mergulhar numa história - quiçá romântica - quanto permanecer firme no chão.

Comentários

Uooooou, Rah!

Esse foi um dos melhores!
Preciso ler novamente pra fazer um comentário à altura!

A-D-O-R-E-I-!
andré henrique disse…
Aurélia devia ter lido .

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